Sociedade Brasileira de Coloproctologia alerta que, apesar de não terem cura, quando tratadas adequadamente, há melhora significativa na qualidade de vida dos pacientes e no controle terapêutico, diminuindo-se o índice de complicações

Durante o mês de maio, a Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP), juntamente com outras Sociedades que se dedicam às doenças do aparelho digestivo – como Grupo de Estudos da Doença Inflamatória do Brasil (GEDIIB), Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG), Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (Sobed) e Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva (CBCD) – participa do Maio Roxo, campanha para conscientizar sobre as doenças inflamatórias intestinais. No Portal da Coloproctologia e na página da Sociedade no Facebook, o público leigo obterá informações e dicas sobre a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa.

Ainda sem causa comprovada, as doenças inflamatórias intestinais (DII) podem estar ligadas a fatores hereditários e imunológicos, podendo ser agravadas pelos hábitos de vida. Atingem ambos os sexos indistintamente e o diagnóstico acontece geralmente por volta da terceira década de vida. “As DII acometem principalmente jovens, em plena atividade, limitando temporária ou definitivamente suas ocupações habituais, influenciando o comportamento na escola, no trabalho, no relacionamento social e familiar, na autoimagem e na atividade sexual. Não possuem cura, estando relacionadas ao sistema imunológico e genético, mas o diagnóstico precoce e o tratamento podem permitir seu controle e proporcionar melhor qualidade de vida aos pacientes, que podem até vir a ficar completamente assintomáticos”, afirma a presidente da SBCP, Dra. Maria Cristina Sartor.

Ambas as formas da doença podem ter manifestações extraintestinais, como problemas oculares, articulares, pele, vias biliares e fígado. Nestes últimos, muitas vezes há necessidade de transplantes do fígado. Na dependência das características dos sintomas, especialmente sangramento, podem ser confundidas com hemorroidas.

Doença de Crohn

A doença de Crohn pode se manifestar em qualquer parte do tubo digestivo (da boca ao ânus), sendo mais comum no final do intestino delgado e do grosso. Entre os sintomas principais estão diarreia, sangue nas fezes, anemia, dor no abdome, perda de peso e febre. Mais raramente há estomatites (inflamações na boca). Também pode atingir pele, articulações, olhos, fígado e vasos. A doença mescla crises agudas recorrentes, leves a graves, e períodos de ausência de sintomas.

O diagnóstico é feito por meio da colonoscopia com biópsia. Outros exames como radiografia do abdome, exame contrastado do intestino delgado, tomografia computadorizada, ressonância magnética, cápsula endoscópica e exames laboratoriais, na dependência dos sintomas, auxiliam na identificação das alterações típicas.

É relativamente comum a necessidade de cirurgias, como retirada de segmentos do intestino por oclusão, sangramento ou perfuração, especialmente o delgado, e tratamento de lesões anais como abscessos e fístulas, contribuindo, em muito, para o controle dos sintomas e das possíveis complicações. Também não é rara a confecção de estomas, que são aberturas do intestino na pele do abdome para permitir a saída de fezes, sem passar pela região afetada.

Retocolite ulcerativa

A retocolite ulcerativa inespecífica caracteriza-se por inflamação da mucosa do intestino grosso, apresentando diarreia crônica com sangue e anemia. O reto quase sempre está afetado, sendo às vezes o único segmento. Não há lesões no intestino delgado, o que constitui característica da doença, muitas vezes sendo o fator primordial para diferenciá-la da doença de Crohn. A inflamação pode vir a se tornar muito grave, com hemorragias maciças e perfuração intestinal, necessitando de cirurgias de urgência

O diagnóstico é feito principalmente pela colonoscopia com biópsias.

O tratamento inclui medicamentos para controle da inflamação. Quando a doença não consegue ser controlada por meio de tratamento clínico ou apresenta determinadas complicações agudas ou crônicas, especialmente neoplasia, mesmo muito precoce, opta-se pela cirurgia.

“É necessário retirar todo o intestino grosso e reto. O restabelecimento do trânsito fecal, de forma ideal, é garantido pela confecção de um reservatório no final do intestino delgado, por meio de uma plástica, que é suturado ao canal anal. Alguns pacientes podem manter o reto e o intestino delgado é costurado a ele. Quando não há indicação ou segurança para que o canal anal seja mantido, é confeccionada uma ileostomia, abrindo-se o intestino delgado no lado direito da barriga, próximo ao umbigo, à qual é acoplada uma bolsa plástica (fornecida pelas secretarias de saúde), descartável, geralmente trocada a cada quatro ou cinco dias. Quando o estoma não é definitivo, podem ser necessários estomas temporários para se proteger a costura do intestino. Passado o tempo de risco, a abertura temporária no intestino pode ser fechada com relativa facilidade”, explica Dra. Maria Cristina Sartor.

Pacientes com DII possuem maior risco de câncer colorretal em relação à população sem a doença. A colonoscopia é o melhor método para diagnosticar e tratar lesões potencialmente cancerosas relacionadas às DII. Por isso, a partir de oito a dez anos de diagnóstico do problema no intestino grosso, seja retocolite ou doença de Crohn, é recomendada a realização periódica de colonoscopia por endoscopistas/coloproctologistas experientes no assunto, com a finalidade de se evitar o câncer colorretal e suas consequências. O coloproctologista saberá melhor orientar as opções terapêuticas e os intervalos de exames.